jueves, 22 de noviembre de 2012

Del 3 de Febrero al 22 de Junio en nuestra incompleta democracia



Del 3 de Febrero al 22 de Junio
en nuestra incompleta democracia

Por Gustavo Codas (*)

El 22 de Junio del 2012 mostró los límites del régimen inaugurado por el 3 de Febrero de 1989”. Esa definición precisa y rica en significados sobre el golpe de estado parlamentario fue planteada por uno de los expositores en una plenaria del Frente Guasú el 8 de septiembre pasado. Primero expliquemos la tesis. Después discutamos algunas posibles conclusiones.

El golpe democratizador de 1989 fue dado desde dentro del stronismo para cambiar el régimen político, pasando de dictadura a democracia, pero garantizando lo fundamental de aquél, su carácter oligárquico, que hace que tengamos un país con riquezas y derechos para pocos y una amplia masa de excluidos sociales, económicos y políticos. Para ello se desarrollaron una serie de instituciones públicas (ej., las que rigen los procesos electorales controlados por los partidos tradicionales conservadores) y privadas (como los medios masivos de formación de opinión pública) perfectamente sintonizados con aquel programa político de “cambiar todo para que no cambie lo fundamental”.

Esto funcionó, con altos y bajos, hasta el 2008. Ese año hubo una “falla” del sistema y fuerzas conservadoras - como los liberales - vieron que la única posibilidad de derrotar a sus tradicionales adversarios colorados era apoyándose en la figura de Fernando Lugo. Éste, sin embargo, por su trayectoria y formación, tenía - y mantiene - un compromiso con aquellos excluidos del régimen oligárquico. O sea, era un candidato anti-sistema.

Por eso las fuerzas conservadoras, inmediatamente después de la victoria, anunciaron los límites del mandato de Lugo. Él podría terminar tranquilamente su período presidencial siempre que no innovase rompiendo la lógica del régimen oligárquico. A mediados del año 2009 el Partido Patria Querida (PPQ) formuló la tesis por escrito y presionó - infructuosamente - para que el presidente Lugo adhiera (ver “Compromiso democrático”, 14 de agosto del 2009). Muy temprano la prensa que apoyó a su candidatura también apuntó en igual sentido. Con el mismo objetivo “disciplinador” la figura constitucional del “Juicio Político” fue agitada todo el tiempo (¡23 veces!), pero de manera inconstitucional como si el sistema presidencialista contemplara el “voto de desconfianza” de tipo parlamentarista.

El tipo de régimen instalado después del 3 de febrero de 1989 admite alternancias pero dentro del mismo proyecto cambiando colores, por ejemplo, colorados por azules, pero no alternancias entre proyectos como sería salir de un modelo de exclusión social para pasar a otro de inclusión social. El evento del 22 de Junio de 2012 fue nada más para “corregir” la “falla” y volver a la normalidad oligárquica.

Sin embargo, el régimen instalado en 1989 no dejó de presentar fisuras por donde la soberanía popular podía ser ejercida contra la lógica oligárquica. Lo demostró tempranamente la elección municipal en Asunción en 1991. Por problemas que no cabe analizar aquí, sin embargo, aquel brote tempranero no prosperó. Finalmente, esas fisuras se manifestaron con fuerza en el 2008. Es que queriéndolo o no, los progenitores de esta democracia truncada tuvieron que abrir las puertas de la política, de la acción colectiva y el debate abierto de ideas, que ha chocado en diversos momentos con los límites del régimen oligárquico en estas dos décadas de transición democrática. La elección de Lugo fue solamente el punto alto de ese proceso histórico-popular.

La unanimidad conservadora ANR, PLRA, PPQ y UNACE para el golpe parlamentario fue el intento de cerrar de nuevo las fisuras del régimen. Pero la elección del 2008 abrió una puerta en la política que continúa abierta o, quien sabe, y esté sólo entreabierta. La cuestión clave es si el sujeto político que expresa ese proyecto anti-oligárquico se va a presentar para la lucha político-electoral aprendiendo del 2008 y yendo más allá. El régimen como vimos, no lo impide, y la democracia paraguaya lo necesita para completarse.

Si la inclusión social será condición cada vez más importante para que se consolide una democracia en nuestro país, no tengamos duda de lo que estará en juego en el 2013.

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(*) Gustavo Codas es periodista, economista y máster en relaciones internacionales.






lunes, 6 de agosto de 2012

La visión de Itamaraty sobre Mercosur, el ingreso de Venezuela y la situación de Paraguay: embajador Antonio Simoes

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20666


Mercosul deixa de ser um projeto centrado no Cone Sul

Em entrevista à Carta Maior, o embaixador Antonio José Ferreira Simões, Subsecretário-Geral da América do Sul, Central e do Caribe, analisa a crise político-institucional no Paraguai, o ingresso da Venezuela no Mercosul, o atual estágio do processo de integração regional e os novos desafios para a política externa brasileira. O ingresso da Venezuela dá novo contorno geopolítico ao Mercosul, que deixa de ter um projeto centrado no Cone Sul e amplia sua capacidade de irradiação para o Caribe e para a América Central, destaca o embaixador.

"É preciso que a sociedade brasileira se conscientize do que significa ser a 5ª economia do mundo. Grande parte da população ainda tem uma imagem do Brasil como país periférico, de menor importância no cenário internacional. Mas essa imagem é totalmente equivocada. O Brasil, ao lado dos Estados Unidos e da China, são os únicos três países que estão, ao mesmo tempo, na relação dos dez países de maior território, dos dez países mais populosos e dos dez países com maior PIB no mundo. O principal desafio da diplomacia brasileira é, portanto, mostrar à sociedade brasileira que o Brasil precisa ter uma atuação externa à altura de sua potencialidade econômica, política e social". 

A avaliação do embaixador Antonio Simões fornece a moldura geral de sua análise sobre os mais recentes episódios envolvendo o processo de integração regional. O modelo de integração do MERCOSUL, defende o diplomata brasileiro, é distinto do modelo europeu que atualmente atravessa grave crise. "Aqui, optamos por um processo de integração em que, mais importante do que haver uma economia-âncora, é que as sociedades de todos os países estejam envolvidas no processo de integração".

Carta Maior: A que se deve essa constante instabilidade que pressiona periodicamente o Paraguai? 

Antonio Simões: Um problema central no Paraguai é a fragilidade de suas instituições, agravado pelo fato de que apenas uma pequena parcela da população está efetivamente integrada à vida política. Essas debilidades – que, convém frisar, são comuns a outros países da região – estão estreitamente associadas aos períodos de exceção experimentados pelo Paraguai, dos quais o mais longo e conhecido é o governo de Alfredo Stroessner. Naquele período, além das restrições às liberdades fundamentais, próprias de governos autoritários, criou-se no Paraguai um regime de “prebendas”, de concessões do Estado, que tinha como vértices o Partido Colorado, grandes empresários e proprietários de terra e altas patentes das Forças Armadas.

Se compararmos a duração do Governo Stroessner – 35 anos, de 1954 a 1989 – com o período de redemocratização do país, que mal completou 23 anos – de 1989 a 2012, temos a dimensão de quão debilitado – e justificadamente - ainda pode estar o ordenamento institucional paraguaio.

É nesse contexto que se deve destacar a relevância dos processos de integração regional, como o MERCOSUL e a UNASUL. Como se sabe, as cláusulas democráticas desses órgãos desempenham importante papel de “estímulo positivo entre pares”, com vistas a desestimular aventuras antidemocráticas na região. Mas isso não é tudo. As diversas instâncias em que se estruturam esses mecanismos vêm contribuindo de forma significativa para o fortalecimento e a harmonização institucional em nível regional.

CM: Até que ponto a questão da propriedade e da posse da terra - o Paraguai tem uma concentração histórica de grandes áreas em poucas mãos - contribui para essa instabilidade? Até que ponto a pressão dos grandes proprietários foi determinante para a deposição do presidente Fernando Lugo? 

AS: O modo como se deu a apropriação da terra é um problema estrutural da organização social e econômica do Paraguai. É um tema antigo e complexo, cuja solução parece constituir elemento fundamental para a real democratização do país. Segundo dados oficiais, apenas 0,005% da população concentram 25% da terra; 80% da terra, por sua vez, são propriedade de apenas 2% da população.

Na região oriental do país, onde vive mais de 90% da população, apenas 2% das propriedades ocupam mais de 80% da superfície de terras agrícolas do país. No outro extremo, as áreas agrícolas de menos de 5 hectares - cerca de 40% em número de propriedades - representam menos de 1% da área cultivada. 

Não se trata, naturalmente, de problema exclusivo do Paraguai. O Brasil viveu realidade similar por muito tempo. Entre nós, no entanto, a questão tem sido bem encaminhada por meio de programas de reforma agrária e de apoio estatal às famílias reassentadas para sua integração à estrutura produtiva nacional. A agricultura familiar é responsável pela produção de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros e ocupa aproximadamente 75% da mão de obra rural. A agricultura familiar constitui, no Brasil, fator fundamental para a estabilidade social no campo. 

CM: Existe uma real responsabilidade histórica de países como Argentina e Brasil com relação ao Paraguai?

AS: Entendo que todos os países da América do Sul têm responsabilidades históricas com seus vizinhos. Por isso, é importante que todos juntemos esforços, nos planos interno e regional, para a criação e consolidação de instituições que venham a estruturar “espaços regionais comuns”, como o MERCOSUL e a UNASUL.

É no âmbito desses espaços comuns que precisamos trabalhar, com pragmatismo e solidariedade, em prol de melhores condições de vida para a nação sul-americana.

Não se trata de retórica. No caso específico do Paraguai, podemos citar um exemplo concreto, entre vários outros. Está sendo implantado naquele país, com recursos de contribuições brasileiras ao Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), da ordem de US$ 400 milhões, um sistema de transmissão de energia elétrica em 500 kV entre Itaipu e Villa Hayes, nos arredores de Assunção. Trata-se de obra fundamental para garantir o suprimento de energia elétrica no país, de modo a evitar os frequentes apagões verificados em momentos de pico de demanda. 

Ademais, esse sistema tem potencial para constituir-se em fator decisivo na transformação da realidade econômica do Paraguai, ao ensejar a instalação de indústrias que, atualmente, ainda que atraídas pela oferta de energia barata e abundante, não dispõem de suprimento confiável. 

CM: É possível avaliar os benefícios concretos do Mercosul para o Paraguai?

AS: A primeira coisa que devemos ter em mente é que o Paraguai é um país sem litoral. Grande parte do comércio exterior paraguaio é feito via território brasileiro ou argentino. Só isso já demonstra a importância do MERCOSUL para o comércio paraguaio. Além disso, o Brasil é o maior parceiro comercial do Paraguai. Nós somos o destino de quase 15% das exportações paraguaias. Se tomarmos o caso do MERCOSUL, veremos que, em 2011, o bloco respondeu por um quinto da corrente de comércio do Paraguai. Talvez mais importante que os totais é a composição da pauta de comércio entre o Paraguai e os sócios do MERCOSUL: segundo estudos do CADEP (“Centro de Análisis y Difusión de la Economia Paraguaya”), quase 60% das exportações de manufaturados do Paraguai em 2011 foram destinados aos países do MERCOSUL e associados.

Além dos óbvios benefícios comerciais, a integração no âmbito do MERCOSUL também compreende uma dimensão socioeconômica mais ampla. É o caso do FOCEM, criado em 2007, com o objetivo de promover projetos para superar as assimetrias entre os países do bloco. O FOCEM é uma das experiências mais bem sucedidas do Mercosul. O Paraguai é o maior beneficiário do Fundo: contribui com apenas 1% e recebe 48% dos recursos totais. Já foram aprovados 18 projetos do FOCEM no Paraguai, em um valor total de US$ 644,5 milhões. São projetos em áreas como habitação, transportes, incentivos à microempresa, capacitação tecnológica, melhorias sanitárias, entre outros. Nesse universo de projetos, merece destaque a construção, já mencionada, da linha de transmissão entre Itaipu e Villa Hayes, que está orçada em US$ 555 milhões e conta com contribuições voluntárias do Brasil ao FOCEM da ordem de US$ 300 milhões.

É importante mencionar que a suspensão do Paraguai dos órgãos decisórios do MERCOSUL não afetará nenhum projeto do FOCEM no país. Pelo contrário. Na Cúpula de Mendoza, a mesma reunião que decidiu pela suspensão do Paraguai, foram desembolsados US$ 66 milhões do FOCEM para o projeto da linha de transmissão Itaipu-Villa Hayes. Essa é a prova do nosso compromisso com o bem-estar do povo paraguaio. Essa foi uma determinação expressa dos Presidentes dos Países do MERCOSUL em Mendoza.

CM: Qual o significado político e econômico da entrada da Venezuela no bloco? 

AS: É preciso ter presente, antes de mais nada, que esta é a primeira ampliação do MERCOSUL desde a sua criação em 1991. Isso, por si só, possui um grande significado político: demonstra que o bloco permanence vigoroso como projeto de desenvolvimento compartilhado e que tem poder de atração sobre os países vizinhos. 

O ingresso da Venezuela dá novo contorno geopolítico ao MERCOSUL. Em primeiro lugar, o MERCOSUL deixa de ter um projeto centrado no Cone Sul e amplia sua capacidade de irradiação para o Caribe e para a América Central. A dimensão amazônica do MERCOSUL também é reforçada, o que dá um novo sentido para o bloco, da perspectiva do desenvolvimento da região norte do Brasil.

A presença de um país como a Venezuela, com sua densidade econômica e seus recursos naturais, sobretudo energéticos, altera de maneira significativa o peso internacional do MERCOSUL. As reservas de petróleo venezuelanas são as maiores do planeta. Esse dado, somado ao potencial do pré-sal brasileiro, à nossa liderança em energias renováveis, às reservas argentinas de petróleo e gás e ao potencial hídrico do conjunto do MERCOSUL, faz do bloco uma potência energética de primeira grandeza. 

Se considerarmos que o MERCOSUL já era um dos principais produtores de alimentos, vemos agora que o bloco é peça central para a equação de duas questões centrais para o futuro da sociedade global: a segurança energética e a segurança alimentar.

Do ponto de vista estritamente econômico e comercial, os ganhos com a entrada da Venezuela são facilmente verificados. A Venezuela tem o quarto maior PIB da América do Sul e a quarta população do continente. Se tomado como conjunto, o MERCOSUL passa a ser a quinta economia mundial, com uma população de 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul) e um produto interno de US$ 3 trilhões (mais de 80% do PIB sul-americano).

Mais importante ainda é o fato de que há complementaridade entre nossas economias. A Venezuela é um grande importador de alimentos. Há, sem dúvida, um potencial de comércio a ser explorado nesse setor. Na outra ponta do espectro produtivo, o país está também empenhando em reforçar suas capacidades industriais, o que abre perspectivas para nossos setores de máquinas e equipamentos. Há muito a ser feito em matéria de integração produtiva, principalmente no setor petroleiro. E há uma nova fronteira de investimentos e empreendimentos comuns que se abre com o ingresso de um sócio com o peso da Venezuela no MERCOSUL, que entra definitivamente em uma nova etapa de sua história.

CM: Existe uma regra estabelecida pelos países do bloco, segundo a qual as decisões devem sempre ser tomada por unanimidade. Durante muito tempo o Paraguai vetou o ingresso da Venezuela no Mercosul. Quais as razões que levavam o Paraguai a agir dessa forma ?

AS: É preciso esclarecer que, no MERCOSUL, as decisões são tomadas, como regra, por consenso. No caso da solicitação de adesão de novos Estados Partes – e não da incorporação em si – exige-se unanimidade. A solicitação de adesão da Venezuela, feita ainda em 2005, foi aceita por todos os países do MERCOSUL, inclusive pelo Paraguai, com a Decisão 29/05 e com a assinatura do Protocolo de Adesão.

Durante muito tempo, o Congresso paraguaio – e não o Paraguai como um todo – tratou com muita reserva a questão da entrada da Venezuela no MERCOSUL. É muito difícil avaliar as razões para isso.

Particularmente, acredito que o Paraguai tem muito a ganhar com a entrada da Venezuela. O Paraguai, grande produtor e exportador de alimentos, poderá se beneficiar muito com as facilidades de comércio da adesão venezuelana. Quase 70% dos alimentos consumidos na Venezuela são importados, fazendo do país potencial mercado para as exportações paraguaias. Além disso, a Venezuela deverá aportar recursos adicionais ao FOCEM, que poderão ser aplicados em novos projetos no Paraguai, contribuindo efetivamente para a melhoria na qualidade de vida do povo paraguaio.

CM: A crise da UE - um processo de integração de quase 50 anos que esfarela sob o peso da crise mundial - traz que lições à agenda da integração latino-americana? 

AS: Durante muito tempo, o modelo de integração da UE foi apontado como uma “receita infalível” que deveria ser seguida por outras regiões no caminho da integração. Ainda hoje, críticos da nossa integração apontam que nosso modelo estaria fadado ao fracasso, por não reproduzir os passos dados na UE.

Acredito que a crise econômica na UE demonstra que não há receitas prontas. Precisamente no momento em que as economias europeias apresentam grandes dificuldades econômicas, os países do MERCOSUL exibem resultados positivos.

O MERCOSUL demonstrou que um processo de integração deve respeitar os ritmos e as sensibilidades de cada país. A impressão que tenho é que a União Europeia buscou estabelecer um mesmo manual para todos os membros, e hoje, eles se dão conta de que medidas como a implantação do euro talvez devessem ter sido mais lentas, mais graduais. Já no MERCOSUL, evoluiu o entendimento de que mais importante do que avançar rapidamente na integração econômico-comercial é adotar medidas que traduzam o processo de integração em verdadeira melhoria da vida das pessoas.

CM: O embaixador Samuel Pinheiro mencionou recentemente a nova estratégia norte-americana na AL, de criação de mini-Alcas. Um exemplo, o recente acordo do Pacífico. Como a Unasul poderia responder a esse processo que ameaça retalhar a AL em estratégias díspares, dificultando processos de desenvolvimento integrado?

AS: O modelo de criação de áreas de livre comércio teve seu auge nos anos 1990, com a criação do NAFTA e o lançamento das negociações da ALCA. Com o fracasso dessas negociações, os Estados Unidos passaram a investir na estratégia de assinar acordos bilaterais de livre comércio, com países como Chile, Peru e Colômbia. No entanto, há estudos do BID e da CEPAL que demonstram que esses acordos apresentam benefícios limitados, tendo, muitas vezes, impacto nulo sobre o PIB e sobre a distribuição de renda. 

Mesmo em termos estritamente comerciais, nota-se, em vários casos, que o aumento das importações de produtos norte-americanos excede muito o crescimento das exportações para aquele mercado, além de manter a pauta exportadora concentrada em produtos tradicionais. Um estudo de 2011 do Ministério de Relações Exteriores do Chile demonstra que, decorridos sete anos da vigência do acordo de livre comércio com os EUA, as exportações chilenas cresceram menos de 15%, enquanto que as importações de produtos norte-americanos pelo Chile aumentaram em cerca de 200%. O estudo conclui também que a pauta exportadora chilena aos EUA se concentrou ao longo desses sete anos: o cobre passou, por exemplo, de 56% do total exportado em 2006 para 74% em 2009. Esses dados mostram que os Acordos de Livre Comércio, mesmo em termos de acesso a mercados, podem não ser tão benéficos quanto alguns defendem.
Por outro lado, a UNASUL é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento baseada no fato incontornável da geografia. É um processo de integração muito mais amplo, com diversas iniciativas concretas para a promoção do desenvolvimento conjunto da região. 

Independentemente das opções específicas de política comercial de cada país da região, continuaremos sendo vizinhos e compartilhando problemas que requerem ação concertada. Isso vale para temas sociais e políticos, como saúde, defesa, segurança, mas vale também para as aspirações de desenvolvimento econômico. A carteira de projetos estratégicos do COSIPLAN (Conselho de Infraestrutura e Planejamento da UNASUL), que sucedeu a IIRSA, pode representar um divisor de águas, ajudando a integrar fisicamente a região para que haja mais trocas comerciais e mais investimentos recíprocos, gerando um ciclo de crescimento para dentro.

Uma UNASUL fortalecida permitirá que a região tenha mais chances de enfrentar com êxito seus enormes desafios, construindo seu próprio modelo de cooperação e de desenvolvimento, adaptado à sua realidade e, sobretudo, a seus interesses e aspirações.

A UNASUL incorpora, no nível regional, um conceito operacional que nossos países já vem adotando com excelentes resultados: desenvolvimento econômico indissociado de justiça social.

CM: A Alemanha foi de certa forma, o guarda-chuva financeiro da integração de mercados na UE (hoje pode ser o coveiro desse processo). De qualquer forma, a experiência indica que todo processo de integração requer a âncora de uma economia forte que sirva de alicerce nuclear entre os demais países. O Brasil tem condições de cumprir esse papel na AL? 

AS: Brasil, Argentina, Venezuela, e vários outros países poderiam ter esse papel na América do Sul. Entretanto, é preciso, mais uma vez, entender que o modelo de integração do MERCOSUL é distinto do modelo europeu. Aqui, optamos por um processo de integração em que, mais importante do que haver uma economia-âncora, é que as sociedades de todos os países estejam envolvidas no processo de integração.

Temos, na América do Sul, grande produção de alimentos, grande produção de minérios, e as maiores reservas mundiais de petróleo e de água doce. Mas a existência de recursos por si só não produz desenvolvimento. O processo de integração sul-americana é justamente o instrumento para transformar os recursos potenciais da América do Sul em desenvolvimento socioeconômico e melhoria de vida da população.

A experiência sul-americana mostra que, mais do que uma economia que sirva de alicerce, o que precisamos é somar as capacidades individuais em torno de um projeto de desenvolvimento compartilhado.

CM: Após a Rio+20, houve alguma mudança substancial no papel da questão ambiental na agenda política das nações?

AS: Precisamos pensar, em primeiro lugar, em como a questão ambiental evoluiu na agenda internacional nos últimos anos. Em 1992, logramos posicionar a questão do desenvolvimento sustentável no cenário político internacional. Desde então, os países vêm incorporando esse conceito, esse ideal, a suas políticas internas e à sua ação externa. Chegamos à Rio+20 com o desafio de transformar uma ideia já consolidada na agenda política dos países em metas comuns mais concretas para as próximas décadas.

Em segundo lugar, é preciso considerar que há uma diferença fundamental entre a Rio 92 e a Rio+20. A Rio 92 foi um ponto de chegada. Lá, foram concluídas diversas negociações, que levaram anos, permitindo a assinatura de diversos instrumentos, como a Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima, a Convenção de Combate à Desertificação e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Já a Rio+20 foi um ponto de partida. Foi o momento de traçar diversas linhas sobre como deverá ser o mundo nos próximos anos. A Rio+20 teve como grande objetivo construir uma agenda para levar a um mundo mais sustentável, mais inclusivo e mais justo.

CM: O Brasil, juntamente com os demais países do grupo BRICS, está em condições, de produzir uma inflexão nas negociações multilaterais nos grandes fóruns existentes hoje no sistema ONU?

AS: O peso econômico, social e político dos BRICS é grande, e será cada vez maior. A importância dos BRICS vai além de sua enorme participação no PIB e na população mundiais. O aspecto mais relevante dos BRICS é sua capacidade de projetar a perspectiva do mundo em desenvolvimento, que por muito tempo foi uma perspectiva lateral, para o centro das principais discussões internacionais.

Os BRICS, por seu peso internacional e pela agenda que representam, têm a capacidade de rearticular e de reprojetar o mundo em desenvolvimento. Essa projeção depende não só do crescimento das economias dos BRICS. Ela também evoluirá à medida que esses países consigam projetar, internacionalmente, sua própria imagem como sociedades em desenvolvimento.

CM: Qual é, na sua opinião, o principal desafio da diplomacia brasileira hoje. 

AS: Ano passado, o Brasil se tornou a 6ª economia do mundo (em função de diferenças cambiais, alguns argumentam que este ano seríamos a 7ª). Projeções indicam que nos tornaremos a 5ª economia mundial em breve. O principal desafio da diplomacia brasileira hoje, é, nesse sentido, se consolidar como a diplomacia de uma quinta economia do mundo. Precisamos mostrar que somos uma diplomacia dinâmica e criativa, que mantém fortes relações com os países vizinhos, mas que também é capaz de agir em termos globais, participando ativamente em instrumentos de articulação, como o G20 e o BRICS.

Muito mais além, é preciso, sobretudo, que a sociedade brasileira se conscientize do que significa ser a 5ª economia do mundo. Grande parte da população ainda tem uma imagem do Brasil como país periférico, de menor importância no cenário internacional. Mas essa imagem é totalmente equivocada. O Brasil, ao lado dos Estados Unidos e da China, são os únicos três países que estão, ao mesmo tempo, na relação dos dez países de maior território, dos dez países mais populosos e dos dez países com maior PIB no mundo. Isso é muito significativo.

O principal desafio da diplomacia brasileira é, portanto, mostrar à sociedade brasileira que o Brasil precisa ter uma atuação externa à altura de sua potencialidade econômica, política e social.

lunes, 16 de abril de 2012

El encuentro fundacional del Foro de S. Paulo, 1990 (videos)

Mientras en Europa el "socialismo realmente existente" se deshacía en el aire.... en la ciudad de S. Paulo, a invitación del PT de Brasil, se realizaba el encuentro que sería el marco fundacional del Foro de S. Paulo, el espacio de convergencia de los partidos progresistas, de izquierda y democráticos de América Latina y el Caribe.

Abajo tienen los links de los videos que registran el encuentro y del blog de Valter Pomar (actual secretario ejecutivo del Foro) que da detalles de la información que contienen.

http://www.youtube.com/watch?v=72GXQ6l3Pdw&feature=youtu.be

http://www.youtube.com/watch?v=sDRi9PJCyAs&feature=youtu.be

http://www.youtube.com/watch?v=zLQbo84Xx4I&feature=youtu.be

http://valterpomar.blogspot.com/2012/04/cenas-do-primeiro-foro-de-sao-paulo.html


domingo, 15 de abril de 2012

Es necesario abordar el tema de la democracia socialista


É preciso tratar da democracia socialista
É preciso tratar da democracia socialista
10/04/2012 
Por Tarso Genro, publicado originalmente na Folha de S. Paulo.  *
Mesmo as democracias consolidadas são ameaçadas, hoje, pela crise do sistema financeiro global. É clara a incompatibilidade objetiva entre o processo de enriquecimento sem trabalho, da atual fase do capitalismo global, com os sistemas socialdemocráticos estabelecidos, responsabilizados falsamente pela crise.
Nesse contexto, pergunto: não se deve abrir um debate honesto sobre democracia e a ideia do socialismo, tomando este não mais como modo de produção "pré-configurado", mas como ideia reguladora?
Sustento que socialistas e comunistas não têm feito este debate por dois motivos.
Primeiro, porque, nos governos, enfrentam a questão da governabilidade, a partir de alianças muito amplas, às quais esse tema arrepiaria.
Segundo, porque as tarefas de governo tendem a promover a abdicação da reflexão teórica pela necessidade empírica de "resolver coisas". Resolvê-las para responder exigências alheias às questões concretas do socialismo, que não estão em jogo em nenhum lugar do Ocidente, com exceção de Cuba e, aliás, em sentido inverso.
Mas há uma razão de fundo, que encobre as duas acima citadas e imprime passividade às culturas socialistas partidárias, na atual conjuntura mundial.
É a recusa, consciente ou inconsciente -por incapacidade ou opção-, de abordar a questão do socialismo, em conjunto com a questão democrática.
Através desse exercício ficaria clara a dificuldade de manter bases eleitorais afinadas com um regime de acumulação ou distribuição socialista, dentro da democracia política. É preciso encarar esta verdade.
A socialdemocracia reformista, que assumiu os governos de esquerda neste período, recuou, em consequência, da "utopia socialista", para se preservar na "utopia democrática". Abdicou, assim, da ideia da "igualdade" -presente nas propostas socialistas- para assumir a ideia da "fraternidade" em abstrato, presente na ideia de solidariedade, na constituição política do Estado social de Direito.
Só que essa fraternidade funciona, no sistema global em curso, como pura exigência de renúncia para os "de baixo". Não como sacrifício para os "de cima".
E funciona em momentos de bonança, como distribuição limitada de recursos "para os de baixo", (através de salário e outras prestações sociais) e como acumulação ilimitada de riqueza para os "de cima" (através do lucro e da especulação financeira).
É isso que gera incompatibilidade, globalmente, entre capitalismo e democracia, promovendo grandes dúvidas sobre o futuro da democracia, inclusive na Europa.
As experiências socialistas "reais" resolveram este dilema ("da máxima desigualdade" aceitável e da "mínima igualdade exigível") através dos privilégios regulados no aparato de Estado e do partido.
Esses quadros foram se liberando dos seus compromissos originários e simulando que a "igualdade verdadeira" estava logo ali. E não estava. A socialdemocracia "de esquerda", na Suíça, Suécia, Dinamarca, Noruega, regularam a desigualdade máxima e organizaram a economia para um modo de vida mais duradouro e menos renunciável, pelos seus destinatários, do que as experiências soviéticas.
Pode-se dizer que ambas as experiências -formas específicas de capitalismo de "Estado" ou "regulado"- promoveram paradigmas modernos, à sua época, de igualdade social.
Deixaram, porém, em aberto a questão da democracia socialista como modelo universal, na qual a diferença entre "máxima desigualdade aceitável" e a "mínima igualdade exigível" seja estabelecida como projeto universal para uma humanidade fundada na paz e na justiça.
A esquerda pensante, pelos seus partidos, tem o dever ético de retomar este debate e esta utopia.
* Tarso Genro é governador do Rio Grande do Sul; foi ministro da Justiça (2007-2010), ministro da Educação (2004-2005) e prefeito de Porto Alegre pelo PT (1993-1996 e 2001-2002).
(Artigo publicado originalmente na coluna Tendências/Debates no jornal Folha de São Paulo, edição de 08/04/2012)

domingo, 18 de marzo de 2012

Situación actual de Cuba y sus perspectivas, Fernando Martínez Heredia


Conferencia Magistral en el XVII Encuentro Nacional de Solidaridad con Cuba. Oaxaca, México, marzo 2012.

Ante todo quiero expresar mi agradecimiento a los organizadores que tanto han trabajado para que pueda ser una realidad este hermoso XVII Encuentro Nacional de Solidaridad con Cuba y a las oaxaqueñas y oaxaqueños que han contribuido tanto. Saludar a las mexicanas y los mexicanos que han venido desde tantos lugares de la República, a mis paisanos de la Embajada y del Instituto Cubano de Amistad con los Pueblos. Y saludar la presencia del compañero embajador de Cuba, Manuel Aguilera de la Paz, de las autoridades y de las personalidades sociales y políticas que aquí se han reunido. El Encuentro constituye un paso más de avance de la solidaridad entre los pueblos, cualidad humana que crece, y que es un anuncio del porvenir que tendrá que conquistar la Humanidad.

La clave general del tema que debo abordar hoy está, para Cuba como para la mayoría de los pueblos, en la existencia del colonialismo, el neocolonialismo y los grupos de explotadores y dominantes que en muchos países son sus cómplices y aliados, y está en las resistencias y las rebeldías de los oprimidos contra el sistema de dominación que el capitalismo ha desarrollado y que se erigió en América desde hace cinco siglos. Ese proceso histórico ha sido el causante del llamado subdesarrollo, de mal gobierno como regla en esos países y de todas las agresiones que los imperialistas consideren “necesarias” contra resistentes y rebeldes. El bloqueo y las agresiones sistemáticas de Estados Unidos contra Cuba liberada son un ejemplo de ese rasgo. No puedo entonces dejar de situar al inicio que la situación cubana guarda una estrecha relación con la existencia y los actos del capitalismo imperialista.

Las raíces de la situación actual de Cuba se remontan a la solución revolucionaria que le dio la insurrección triunfante en 1959 a la necesidad de destruir el sistema de explotación, dominación y opresión que regía en el país, al mismo tiempo que la dominación extranjera. Desde 1959 en adelante, la Revolución formó a los actores de los cambios colosales que sucedieron, llevó a cabo esos cambios, aseguró la permanencia y la fuerza de un poder revolucionario, y logró muy profundas transformaciones de las personas y las relaciones sociales.

El pueblo ha sido y siguiendo el protagonista de los hechos, es la expresión social de los seres humanos que crecen y es un concepto central. El poder revolucionario es su mayor creación, y su naturaleza y su actuación constituyen la vía y la garantía de las conquistas fundamentales y de la permanencia de la Revolución. Siempre ha sido indispensable que el poder sea muy fuerte, pero nunca olvidamos que este poder tiene dos rasgos fundamentales: a) es el fruto de los instrumentos y las grandes jornadas de la Revolución, como el Ejército Rebelde, la revolución agraria, la alfabetización, el control total sobre la economía nacional y el armamento general del pueblo; y b) se guía por un proyecto de liberación que nos trasciende y nos gobierna a todos. Por eso es un poder popular revolucionario. La economía, como las demás dimensiones de la sociedad cubana, se rige por: el bienestar de la mayoría; planes socialistas de viabilidad de las relaciones sociales económicas; y una estrategia nacional de país soberano.

Esas son las bases intangibles de la Cuba actual. Es imprescindible partir de ellas para comprenderla, utilizarlas como conceptos rectores y como brújula de los análisis que hagamos de la situación y las perspectivas.

Al examinar la situación actual no los agobiaré con muchas cifras. Existe una buena disponibilidad de ellas en los medios digitales cubanos, y también en publicaciones periódicas y algunos libros valiosos.

La gran crisis de los años noventa fue la variante cubana del curso de dos procesos: el final sin éxito de los esfuerzos e ideales del desarrollo del Tercer Mundo que habían llenado la segunda mitad del siglo XX; y el inicio por el gran capital de una recolonización selectiva a escala mundial. Como los cubanos somos los dueños de nuestro país, seguimos gobernando nuestras relaciones internacionales, pero como somos “subdesarrollados”, nos enfrentamos a muchas variables que están fuera de nuestro control. Una consecuencia fue la pérdida de las relaciones económicas con la URSS y algunos de sus aliados, en las cuales habíamos basado la mayor parte de la reproducción material y el sistema económico. Fue un golpe tremendo para un país como Cuba, pero lo más impresionante es que a pesar de reunirse en el tiempo dos procesos tan adversos, incluida la unipolaridad, la nueva sociedad y el poder cubanos no cayeron.

Un aspecto importante del dominio ideológico totalitario imperialista sobre la mayor parte de la información y la formación de opinión pública que se consume cotidianamente es la decisión de cuáles temas existen y se divulgan, cuáles son sus datos, cómo se deben entender y qué opinión debe tener la gran mayoría, que es reducida a un público consumidor. Del mismo modo, se manipulan los que no les son convenientes, con campañas de mentiras y distorsiones, y se decreta la desaparición de otros temas, cada vez que les es posible hacerlo. Por eso durante décadas rigió un sistema de mentiras acerca de la supuesta incapacidad de Cuba de valerse por sí misma, un alimento típico de la condición colonizada que ellos necesitan imponer a las mentes y los corazones. Pero ante las realidades de la resistencia victoriosa de Cuba en los años noventa, ese sistema fue retirado en silencio, sin que los imperialistas se hayan visto obligados a reconocer que mintieron con tanto entusiasmo y contumacia. La última forma referida, el control ideológico con empleo del silencio mediático, es la que se emplea contra los cinco héroes cubanos presos en Estados Unidos desde hace casi catorce años, y por eso es tan importante la solidaridad mundial de los que exigen su liberación, que al mismo tiempo que se movilizan y se hacen más concientes luchando por una causa justa, denuncian la maquinaria criminal que pretende unir a su insondable maldad la capacidad de extirpar el altruismo, la capacidad de pensar y las cualidades humanas de las mayorías del mundo.

Los que estamos concientes y nos oponemos al sistema poderoso de mentiras tenemos el deber de ayudar a extender y profundizar esa conciencia, a que la asuman tantas personas modestas que todavía son engañadas y manipuladas por aquel poder.

Los tres retos de estos últimos de estos últimos veinte años en Cuba han sido: lograr la sobrevivencia; conseguir la viabilidad económica; cuál será finalmente la naturaleza del régimen que ha ido emergiendo de la crisis de los años noventa. En el momento más agudo de la crisis, fueron decisivos tres saberes populares: debemos defender sin concesiones la soberanía y la justicia social, y el poder revolucionario es el verdadero defensor de ambas.

Le hemos sacado mucho provecho a la coyuntura tan difícil y riesgosa que vivimos hace veinte años. Entonces quedó claro lo que no es socialismo, la necesidad de confiar por sobre todo en nuestros principios, convicciones y fuerzas propias, y lo acertado de mantener y desarrollar el socialismo cubano.

En las dos últimas décadas se han producido cambios grandes e importantes. La crisis, y algunas de las medidas aplicadas para enfrentarla, han implicado retrocesos respecto a la nueva sociedad y a sus proyectos. Pero la estrategia general, la mayor parte de las medidas y la voluntad revolucionaria han sido positivas y han resultado decisivas. La unidad política del pueblo y de este con su poder es el factor principal de lo político. El poder político de la Revolución se ha mantenido incólume, y controla la economía nacional y sus relaciones internacionales. La estrategia y las acciones principales son dirigidas o controladas por ese poder. La utilización de los recursos se rige por la política revolucionaria. Los servicios sociales básicos del socialismo cubano se mantienen, a pesar de las dificultades de tipo diverso que confrontan, y constituyen al mismo tiempo una de sus representaciones ideales fundamentales. La redistribución sistemática de la riqueza a favor de las mayorías sigue por tanto siendo fundamental. Se lucha por mantener las oportunidades para todos como una tendencia principal, mediante diferentes iniciativas e instrumentos impulsados y controlados por el Estado.

Paso a referirme a elementos importantes de la situación actual y las medidas en curso, sin pretender tratarlos todos ni detallar, lo que sería imposible aquí. Mi intención es ilustrar con esas referencias el momento en que estamos y contribuir modestamente a los trabajos que desarrollará este Encuentro de Solidaridad.

La dimensión económica de la sociedad está en el centro de la actividad, los afanes, las normas y otras medidas, y los debates cubanos actuales. Se ha emprendido una profunda reorganización de la formación económica, que afecta de un modo a todos y recibe la atención priorizada de la máxima dirección del país, del Partido, el Estado, las organizaciones sociales y los medios de comunicación. Desde las magnas reuniones del Partido y la Asamblea Nacional del Poder Popular hasta las de las bases y las instituciones locales --un ejercicio democrático sistemático que abarca a todo el país--, en todos esos ámbitos se examinan las directivas, las opiniones y los problemas. La población entera vive envuelta de un modo u otro en esta coyuntura.

En el período reciente, 150 mil agricultores han recibido en usufructo casi 1,4 millones de hectáreas. Se han eliminado instancias estatales en la distribución de productos del agro y facilitado las ventas directas. Se estimula la producción y comercialización de alimentos a escala local y se les dan facilidades de compra de equipos y otros enseres a los agricultores particulares.

El número de trabajadores por cuenta propia ha crecido a 350 000, más del doble que cuando se amplió la posibilidad de serlo, hace año y medio. Las formas de empleo no estatal se amplían con las cooperativas y el arriendo de los locales en numerosos oficios y servicios urbanos. La fuerza de trabajo no estatal, que fue una proporción ínfima durante más de 30 años, crece y se espera que alcance un 40% del total en 2015. Se les han reducido las prohibiciones y los gravámenes, y el impuesto avanza como instrumento de captación de ingreso por el Estado en el caso de esos trabajadores. En alguna medida se otorgan créditos a los nuevos empresarios pequeños, y se dan subsidios a personas de bajos ingresos para reparar sus viviendas. Se ha autorizado la compra y venta de viviendas y de automóviles de uso entre particulares.

Se avanza en los cambios en el sistema de empresas. Los esquemas llamados “cerrados” de financiamiento permiten un acceso descentralizado y más fluido al dinero que se necesita para costear inversiones y producciones. Entre otras áreas, funcionan en la industria médico-farmacéutica, la producción petrolera, la agroindustria azucarera, las aerolíneas, el turismo y el tabaco. La idea general es otorgar a las empresas más autoridad y control sobre sus actividades y sobre una parte de sus ganancias, al mismo tiempo que se les reclama dar prioridad a inversiones que puedan amortizarse y rendir ganancias en breve plazo.

Aunque con fuertes dificultades y rémoras, se avanza en la desconcentración que fortalece las instancias locales y espera de su desarrollo un dinamismo y una multiplicación de fuerzas. Ya hay experiencias en curso de separación clara de funciones, y se pretende aumentar el control de provincias y municipios sobre empresas públicas de sus territorios.

Los resultados económicos son muy variados. Hay sectores agrícolas que crecen en sus producciones, mientras otros no cumplen sus planes. Se han incrementado las ventas al exterior de níquel, combustibles, azúcar y tabaco, con precios más favorables. También crece el turismo. La exportación de servicios de alto valor agregado es una fuente muy sólida de ingresos para el país. Las remesas enviadas a sus familiares por cubanos que viven en el exterior constituyen una importante fuente de divisas. Se mantiene una tendencia positiva al equilibrio fiscal, relacionada con ahorros logrados en algunos sectores, mayores aportes de diversas ramas, crecimiento de los ingresos por impuestos al sector privado y a la circulación. Pero los subsidios para enfrentar pérdidas del sector empresarial siguen siendo una carga pesada.

Si vamos más allá de las relaciones de hechos acerca de los cambios económicos en curso, pudiéramos sintetizar varias características generales:

1- la posición firme de la máxima dirección del país en cuanto a mantener el rumbo socialista ante cualquier disyuntiva, que se comunica a todos y preside lo que se ejecuta;
2- la capacidad y el poder que tiene esa máxima dirección sobre las decisiones políticas y económicas y sobre los recursos y su asignación;
3- los ideales y la ideología socialista y de defensa de la soberanía nacional que mantiene una gran parte de la población. En muchos se hace expresa, en otros es tácita, mediante su identificación con la manera de vivir socialista y con la patria;
4- la política social revolucionaria que se sigue aplicando y recibiendo los recursos necesarios, y los principios que la rigen;
5- la centralización por el poder revolucionario del control de los recursos, de la propiedad o el dominio sobre las empresas grandes y medianas, sobre la inversión, la macroeconomía y sus planes.

En la situación actual, la estrategia del país y sus tácticas están condicionadas por el carácter limitado de sus fuerzas y por numerosos factores externos.

Predomina la estrategia de:

a) mantener y desarrollar polos de producción y servicios capaces de operar bien, regirse por normas y controles, obtener buenos rendimientos y atraer inversiones, para exportar y para resolver necesidades nacionales;
b) importar alimentos y otros bienes necesarios a la población, a unos precios muy altos;
c) reducir importaciones, sea por el nivel del comercio o el de la producción nacional;
d) aumentar la producción nacional, buscando como palanca principal las transformaciones de la política hacia el sector agropecuario;
e) redistribuir paulatinamente la fuerza de trabajo, en evitación del desempleo masivo y al mismo tiempo de errores por precipitación;
f) aumentar las micro y pequeñas empresas privadas que ofrezcan servicios y bienes al consumo interno, y en alguna medida a turistas;
g) impulsar otras medidas para darle más espacio a las actividades económicas privadas;
h) inversiones y una actuación enérgica en obras de infraestructura que son importantes para el desarrollo del país.

Las relaciones económicas internacionales son controladas totalmente por el Estado o sus órganos. La dirección del país conduce las relaciones con contrapartes preferidas, como Venezuela, China, Brasil y otros países. Cuba sostiene relaciones económicas con toda América Latina. Algunas empresas y negocios conjuntos tienen una gran envergadura, como la refinería de Cienfuegos y el área portuaria e industrial de El Mariel; la extracción de petróleo al norte de la isla comienza a hacerse realidad. Estas relaciones económicas guardan fuertes relaciones con el conjunto de la política exterior cubana, que tiene una actividad y un prestigio muy superiores a las dimensiones del país, y que combina muy bien su riguroso apego a los principios con la flexibilidad, la capacidad de negociación y la presencia en innumerables terrenos.

Como ha reiterado el compañero Raúl, se han hecho y se harán las modificaciones legales que sean necesarias, pero hay una frontera: el sistema socialista es intocable. Mecanismos de amortiguación como los impuestos y el pago de Seguridad Social, entre otros, sirven para contener las lógicas desigualdades que generan los altos ingresos de algunos segmentos de la sociedad. Lo esencial es que nadie quede desamparado, que todos queden dentro del sistema de justicia social que podamos garantizar, y que los ingresos, no importa su cuantía, sean solamente frutos del trabajo honrado.

El Presidente ha denunciado a la corrupción administrativa como un enemigo principal de la Revolución, y ha impulsado una campaña decidida de enfrentamiento contra ella, que utiliza todos los instrumentos de la legalidad y no se detiene ante el rango de los que resulten culpables. Como ha hecho Fidel a lo largo de nuestro proceso, Raúl denuncia a los que pretenden formar grupos en el seno del propio aparato estatal, qe acumulen riquezas y esperen desde sus posiciones un eventual regreso al capitalismo.

El trabajo consciente sobre el Estado y el mercado es fundamental para la transición socialista, y debe divulgarse, sumar esfuerzos e iniciativas, convertirlo en una tarea priorizada que tendrá que durar muchos años. Es uno de los aspectos principales de la Revolución. Todavía son insuficientes las clarificaciones y los debates acerca de lo que es deseable, permisible o inevitable en cada momento discernible del proceso, y por consiguiente lo de que se debe impedir, criticar o denunciar.

Los Lineamientos aprobados en el 6º Congreso del PCC dejan claro que deben prevalecer la distribución socialista, la empresa como unidad fundamental y la planificación. Pero en la práctica pesa mucho el pragmatismo. El socialismo entendido solamente como la distribución justa de la riqueza social es insuficiente, pero ha hecho aportes maravillosos a favor de las mayorías, primero a partir de las grandes medidas y leyes, después a través de su sistematización en la segunda y tercera décadas de la Revolución. Las personas, las familias y las comunidades mejoraron radicalmente sus vidas y sus relaciones, y lograron cambiar en muchos aspectos positivos. Si bien no ha sido posible asegurar un desarrollo económico totalmente autónomo, se ha producido un desarrollo económico muy notable y, sobre todo, una modificación radical de la economía y de sus objetivos. Eso no sucedió por la aplicación de la norma de a cada cual según su trabajo. Fue porque la gran mayoría trabajó y se esforzó como cubanas y cubanos. Así se obtuvieron y se distribuyeron los logros, los bienes y las oportunidades, y esto ha sido un adelanto humano y social inmenso, frente a la situación terrible a la que somete a las mayorías el capitalismo allí donde domina.

No podemos esperar que se obtenga la eficiencia económica mediante las supuestas leyes ciegas que porta ella misma, ni por el auge del “sentido común” o por virtudes de la iniciativa privada puestas al servicio del socialismo, como sería, por ejemplo, el imperio sin regulaciones de la llamada relación entre la oferta y la demanda. Es necesario barrer la ineficiencia, el burocratismo y la inercia, y desarrollar las motivaciones y la capacidad de utilizar bien los esfuerzos desde el tipo de sociedad que hemos ido creando. “Advierto que toda resistencia burocrática al estricto cumplimiento de los acuerdos del Congreso (…) será inútil”, dijo Raúl en la Asamblea Nacional en agosto pasado.

En la actualidad se despliega en Cuba una situación compleja, donde conviven los disímiles en paralelo. Entre otros cambios, la obtención de ingresos y la satisfacción de necesidades y deseos se han vuelto más directas que en las décadas anteriores, en las que las agencias sociales eran las mediaciones principales. También ha crecido el papel de lo internacional en la vida económica personal y familiar de muchos, a través de remesas, misiones, turismo, trabajo en “firmas” o venta de servicios.

La gran insuficiencia del socialismo que ha existido a escala mundial es que no ha logrado todavía acumular fuerzas culturales suficientes a su favor, eficaces y atractivas en la lucha contra el capitalismo, y sobre todo para el combate por las transformaciones liberadoras de las personas, de las relaciones interpersonales y sociales, y nuevas relaciones con la naturaleza. Mientras tanto, el capitalismo ha llegado a un callejón sin salida, por su propia naturaleza actual, que es excluyente para las mayorías, parasitaria en economía, colonialista, antidemocrática, militarista agresiva y depredadora del planeta. Pero el capitalismo le sigue sacando un inmenso provecho al modelo cultural a escala mundial que desarrolló y a las enormes fuerzas y conocimientos con los que cuenta. Con ellos les hace a todos los pueblos, incluido el nuestro, una formidable guerra cultural mediante la cual aspira a convertirse en el controlador de todo horizonte de vida cotidiana, de realización personal y de convivencia social.

Como sucede en todo país que tiene un poder revolucionario y realiza una transición socialista, en Cuba existe una pugna permanente entre las relaciones y los valores del socialismo y las relaciones y los valores del capitalismo. Pero, además del poder revolucionario y la decisión popular de defender nuestro tipo de sociedad, en Cuba funciona una extraordinaria pacificación de la existencia, desde la persona y las familias hasta las comunidades y la nación. Esta es una de las mayores conquistas de la Revolución, aunque casi nunca se habla de ella, y está en la base de un hecho que es crucial: en Cuba no hay pleitos políticos. Pero sí existe una gran lucha cultural entre las relaciones y los valores de ambas maneras de vivir y sentir, y esa lucha señala los lugares de disyuntiva y las tensiones que marcan la vida de los cubanos en la actualidad y ante el futuro previsible. En el curso de las dos últimas décadas, el capitalismo ha recibido refuerzos, pero el socialismo se sabe y se siente superior como forma de vida humana, y mantiene su predominio en lo esencial.

El imperialismo norteamericano, por su parte, no ha cejado nunca, durante más de medio siglo, en su designio de destruir a la Revolución cubana y volver a dominar a nuestra patria. Ha habido y hay matices y diferencias tácticas entre ellos, es natural; pero su denominador común es dictado por su naturaleza criminal: destruir la sociedad que hemos creado; reimplantar el capitalismo; neocolonizarnos; y borrar nuestro ejemplo, al que temen tanto, porque es tan subversivo para su orden. Es necesario mantener el conocimiento de los modos actuales de operar que utiliza el imperialismo contra Cuba, con sus novedades que quieren ser sutiles y su vieja soberbia, su raigal inmoralidad y su entraña reaccionaria. Permítanme citar a un intelectual cubano que tuvo que convivir años con ellos para servir mejor a la Revolución, y se convirtió en un héroe: Raúl Antonio Capote, que fue el agente Pablo para la CIA, pero era Daniel para sus hermanos cubanos. Dice, en su libro Enemigo, que acaba de publicarse en Cuba: “La Agencia Central de Inteligencia de los Estados Unidos de América elaboró un complejo plan de subversión político-ideológica, dirigido a convertir a los jóvenes cubanos en enemigos de la Revolución. Para lograr sus objetivos invirtieron cuantiosos recursos humanos y materiales.”

La tarea cubana es difícil, los cubanos estamos conscientes de ello y el Gobierno Revolucionario da pasos paulatinos para enfrentar los problemas, al mismo tiempo que preserva el valor supremo, que es la conservación del carácter socialista del proceso. El compañero Raúl ha reiterado la necesidad de que la población opine libremente y se contrapongan criterios, para encontrar los mejores caminos y obtener los consensos imprescindibles para que sea la participación de un pueblo revolucionario en las decisiones la que garantice la multiplicación de los esfuerzos y de los logros, la creatividad y también los sacrificios, y que esa unión organice y viabilice la fuerza necesaria para vencer los obstáculos y triunfar. No olvidamos que hay muchos defectos acumulados, que cierran el paso a la satisfacción de esas necesidades. La materia misma del problema está pidiendo que se debatan a fondo los problemas centrales de la concepción revolucionaria socialista, no alrededor de cualquier sucedáneo fugaz o peligroso, sino en y para la revolución socialista, y tras sus objetivos más trascendentes.

Ante las duras carencias de recursos materiales, resulta meridianamente claro que el factor subjetivo tiene que ser el determinante en la transición socialista cubana. Sería criminal no utilizar el inmenso potencial que el país ha acumulado en el campo de los conocimientos, del manejo de las técnicas, de la politización, la conciencia y la cultura del pueblo. El número y la calidad de personas capaces y conscientes es superior a los demás recursos disponibles, pero su utilización efectiva constituye todavía una fracción de lo esperable: trabas enormes y muchas veces absurdas lo impiden. Si conseguimos viabilizar la utilización de nuestras fuerzas, podremos aumentar sensiblemente la producción, los servicios, la eficiencia, el buen gobierno, la resolución de los problemas, el enfrentamiento de las carencias, y optimizar el empleo de los recursos con que contamos.

No es necesario ningún recurso material para ser solidario y ser fraterno, para aprender a no vivir del esfuerzo ajeno o de espaldas a lo que el país necesita. Exigir laboriosidad y retribuir el trabajo son dos tareas que pueden hacerse desde posiciones muy diferentes, incluso opuestas. El capitalismo ha experimentado todos los usos de la coacción y del dinero para lograr que las mayorías trabajen con eficacia, y también todas sus combinaciones, en beneficio de su ganancia y del poder de la burguesía. La transición socialista –y eso lo ha explicado muy bien el Che en El socialismo y el hombre en Cuba-- tiene puntos de partida muy diferentes para hacer cumplir esas exigencias sociales, porque sus objetivos son opuestos, y al mismo tiempo diferentes. El socialismo utiliza el salario y otras categorías provenientes del capitalismo, pero no se somete a ellas. Y jamás debe utilizarlas sin el seguro que brinda el mando que ejerce el poder popular revolucionario sobre la economía.

Los aprendizajes del mundo del trabajo y de la eficiencia en Cuba están tratando de articularse íntimamente con los de la educación de los niños y los jóvenes, con la formación moral de todos; por ejemplo, para qué trabajar, por qué debemos servir a los demás como nos sirven a nosotros, cómo la producción de bienes y servicios es un requisito indispensable para mantener y hacer avanzar la justicia social. Trabajamos para lograr que los medios de comunicación social estén realmente a favor de la formación socialista y presten ese servicio al pueblo, que el medio político sea el vehículo eficaz de la participación popular y se plasme una unión de gobierno y servicio, un lugar donde sean bienvenidas las iniciativas y las creaciones. La economía y la política son demasiado importantes para que el pueblo no participe decisivamente en sus decisiones.

La batalla cubana actual tiene una importancia trascendental. Otra vez se juega allí una parte del destino de este continente. En los hogares cubanos es cotidiana la referencia al familiar que está cumpliendo alguna misión de trabajo solidario en otro país de América Latina y el Caribe, porque son decenas de miles. En Cuba, en las actividades y organizaciones estudiantiles comparten las cubanas y cubanos con más de treinta mil estudiantes no cubanos, que en su gran mayoría son latinoamericanos. En la contienda de las imágenes, que es crucial en el enfrentamiento cultural mundial entre el imperialismo y los pueblos, vemos a la gente de abajo, a los más humildes del continente, explicando cómo viven y resisten, y cómo ahora se movilizan y tienen esperanzas. La gente en Cuba está pendiente de lo que se sucede en todos los países hermanos, del Río Bravo a la Patagonia. Vive con emoción las luchas populares, y los procesos populares de Venezuela, Bolivia o Ecuador.

Nuestro país desempeña un papel muy notable en la nueva etapa que se ha abierto en América Latina, y puede hacerlo por la grandeza de la revolución que supo resistir impávida sin ceder sus principios, formar un pueblo con cualidades, capacidades y conciencia política incomparablemente superiores a sus medios materiales, y cambiar la vida y la sociedad en el sentido de liberaciones, bienestar y dignidad. El ejemplo que ha dado Cuba a los pueblos colonizados y oprimidos del mundo es excepcional, y su prestigio le da un lugar privilegiado de potencia moral, pero también cuenta con fuerzas palpables que son capaces de actuar a favor de los humildes de este continente de manera eficaz –como son sus contribuciones en salud y en educación--, y de actuar políticamente a favor de las alianzas de poderes revolucionarios y las concertaciones de quienes reclaman autodeterminación para sus países y avances en la distribución de la riqueza social para sus pueblos.

Las grandes revoluciones contraen enormes obligaciones. José Martí subtituló “El alma de la revolución y el deber de Cuba en América” a un artículo suyo que publicó con motivo del tercer aniversario de la fundación del Partido Revolucionario Cubano. No me referiré a la lección extraordinaria de teoría para la praxis desde el anticolonialismo que nos dejó en aquellas pocas páginas, dedicadas a las tareas sumamente complejas que siempre conllevan las revoluciones. Me limito a citar unas frases suyas: “Hay que prever, y marchar con el mundo (…) Un error en Cuba es un error en América, es un error en la humanidad moderna. Quien se levanta hoy con Cuba, se levanta para todos los tiempos (…) la independencia de Cuba y Puerto Rico no es sólo el medio único de asegurar el bienestar decoroso del hombre libre en el trabajo justo a los habitantes de ambas islas, sino el suceso histórico indispensable para salvar la independencia amenazada de las Antillas libres, la independencia amenazada de la América libre, y la dignidad de la república norteamericana.” Aquel artículo se publicó un 17 de abril. En esa misma fecha, 67 años después, la fuerza del pueblo y el poder revolucionario, unidos ya en Cuba, fue a combatir en Girón la invasión dirigida por Estados Unidos, y obtuvo la primera victoria del socialismo en América. En el treceavo aniversario, en 1974, Fidel dijo: “Después de Girón, todos los gobiernos de América Latina fueron un poco más libres”. Treintiocho años después, podemos parafrasearlo, diciendo que la victoria del modo de vida socialista en Cuba contribuirá a hacer a todos los pueblos de América Latina más libres, más socialistas.